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Foto do escritorLília Palmeira

RUMI - POETA MÍSTICO ENTRE DOIS MUNDOS

Rumi, discípulo de Shams Tabriz, foi um mestre sufi. Aqui alguns fatos que marcaram a trajetória deste ícone da literatura e do caminho espiritual.


Conhecido como Mevlânâ/Mawlānā ("nosso mestre") ou Mevlevî/Mawlawī ("meu mestre") e, mais popularmente, simplesmente como Rumi (30 de setembro de 1207 - 17 de dezembro de 1273), Jalāl ad-Dīn foi um jurista, poeta e mestre espiritual persa do século XIII.

Seu nome completo é Jalāl al-Dīn Rūmī b. Bahā’ al-Dīn Walad b. Ḥusayn b. Aḥmad Khaṭībī. Também conhecido como Jalāl ad-Dīn Muhammad Balkhī (persa: جلال‌الدین محمد بلخى) ou Jalāl ad-Dīn Muḥammad Rūmī (جلال‌الدین محمد رومی).

Jalal ad-Din é um nome que significa "Glória da Fé". Balkhī e Rūmī são seus nisbas, significando "de Balkh" e "de Rûm" (Roman Anatolia), respectivamente.


Rumi nasceu próximo da antiga cidade de Balkh em uma região de Khorāsān (atual Afeganistão), em 6 de Rabīc al-Awal. no ano 604 do calendário islâmico (30 de setembro de 1207 do calendário gregoriano). Seu pai, Baha al Din Walad, foi um grande erudito, teólogo e pregador islâmico da época. que nunca saiu da região da Ásia Central. Ele era filho de, um, Seus ensinamentos eram focados em ter experiências que fizessem seus discípulos sentir a presença divina, o que influenciaria Rumi mais tarde.


Entre 1215 e 1220, quando os mongóis invadiram a Ásia Central, Rumi, sua família e alguns discípulos deixaram sua cidade, migrando para terras muçulmanas, incluindo Bagdá, Damasco, entre outras. Depois de peregrinarem para Meca, se instalaram em Konya, situada na região de Anatólia Central, na atual Turquia Ocidental. Lá, Baha al Din deu aulas em uma madrassa até a sua morte, no ano de 1231. Sua liderança foi substituída por Sayid Burhan al Din Muhaqqiq al Thirmidi, que acabou se tornando o primeiro mestre de Rumi.

Sayid enviou seu aprendiz para a Madrassa Halawiya, em Aleppo, na Síria, onde ele se aprofundou nos conhecimentos sobre jurisprudência islâmica (segundo a escola Hanafi) e, na volta, orientou Rumi a fazer um retiro espiritual de 40 dias. Ao final, o primeiro mestre declarou que Jalal ad Din era alguém sem igual neste mundo.


Rūmī e Shams-i-Tabrīzī

O encontro entre Rumi e Shams ocorreu em 1244, em Konya. Relatos escritos por um discípulo de Rumi afirmam que ambos sentiram a presença do outro quando Shams chegou à cidade, e que eles se procuraram até que conseguiram estar de frente um para o outro.


A convivência de mestre e discípulo durou cerca de três anos e o elo estabelecido entre os dois causou grande ciúmes entre os discípulos Rumi, fazendo com que Tabrizi saísse e não voltasse mais... Rumi fez duas viagens até a Síria atrás de seu mestre, mas sem sucesso. Mas, o sumiço de Shams viria para concluir o aprendizado de Rumi, segundo relatos do próprio mestre:


“Como não estou em condição que me permita ordenar que você viaje, irei impor a necessidade desta viagem sobre mim mesmo, pelo êxito de sua grande obra, porque a separação é como cozer a comida… qual o valor de sua obra? Eu faria cinquenta viagens para que fosse cada vez mais elevado. Minhas viagens são para o bem de sua bem-sucedida obra que está a emergir. Caso contrário, que diferença faz para mim, escolher entre Anatólia e Síria? Não faz diferença se estou na Caaba, em Meca, ou em Istambul. Mas faz-se necessário, pois é a separação que prepara e refina o buscador.”


A reação de Rumi foi perceber que Shams só poderia ser encontrado em seu coração.

“Embora estejamos distantes corporalmente, independente de corpo e espírito, somos uma e a mesma luz. Quer você o veja, quer veja a mim, eu sou ele, e ele sou eu, ó buscador…”

Ele também disse: “Considerando agora que eu sou ele, para que eu o procuro? Agora que eu sou sua própria essência, eu posso falar desde o meu próprio eu.”


Os dervishes rodopiantes

A prática de fazer movimentos que buscassem o êxtase divino já era uma tradição entre os sufis desde, pelo menos, quatro séculos antes de Rumi existir. Nesses eventos, era costume compor poemas de adoração a Deus para serem recitados e cantados, e essas declamações eram acompanhadas de movimentos que, geralmente, eram feitos com as mãos.

Dervixes rodopiantes da Turquia. (Imagem: domínio público)

Rumi participou de eventos como esse por diversas vezes e, talvez, Shams Tabrizi tenha sido o principal responsável por fazer Jalal ad Din participar de tais concertos , pois existem narrativas que mostram que o giro dervish que ele costumava executar foi ensinado por seu mestre.

Após sua morte, seus seguidores e seu filho – Sultan Walad – fundaram a Ordem Sufi Mawlawīyah, ou Ordem Mevlevi, também conhecida como ordem dos dervishes rodopiantes, famosos por sua dança conhecida como cerimônia sama, uma cerimônia sufi realizada como dhikr.

Decifrando: Sama (Turco: Sema; Persa, Urdu e Árabe: سَمَاع‎ - samā‘un) significa "escutar", enquanto dhikr (ou zikr ) significa "recordação" ou “memória”, pronunciamento ou invocação de Deus', sendo um ato de devoção islâmica caracterizado pela repetição dos nomes de Deus bem como súplicas ou fórmulas tomadas dos textos da aḥādīṯ e de versos do Corão. O dhikr costuma ser feito de forma individual, mas em algumas ordens sufis institui-se como uma atividade cerimonial.

A ordem Mevlevi, da qual Rumi foi o grande precursor, formalizou o giro dervish pela primeira vez em um ritual de oração, o que acabou se tornando uma marca registrada. A prática foi replicada inclusive por outras comunidades islâmicas e seu uso ritual continua até os dias atuais, mesmo após o fim dos Mevlevis.

Esses rituais geralmente incluem cantar, tocar instrumentos, dançar, recitar poesias e orações, usar roupas simbólicas e outros rituais, sendo uma forma particularmente popular de adoração no sufismo.

O Poeta Místico

Embora os trabalhos de Mawlānā tenham sido escritos em persa, a importância de Rumi transcendeu fronteiras étnicas e nacionais. Considerado como um dos maiores poetas persas de todos os tempos, foi chamado de ”certamente o maior poeta místico na história da humanidade” (Arberry, 1949, p. xix). Seus trabalhos originais são extensamente lidos em sua língua original em toda a região de fala persa. Traduções de seus trabalhos são bastante populares no sul da Ásia, em turco, árabe e nos países ocidentais. Sua poesia também tem influenciado a literatura persa bem como a literatura em urdu, bengali, árabe e turco.

Rumi (Foto:daysoftheyear.com)

É autor das seguintes obras poéticas: Dīvān-é Kabīr (”Grandes obras poéticas reunidas”) ou Dīvān-é Shams-é Tabrīzī (que contém, nos primeiros manuscritos, mais de 3.000 ghazaliyāt ou poemas líricos, 40 tarjīcāt ou poemas stanzaicos, mais de 1800 rubācīyāt ou poemas em quadras), e Mathnawī-yé Macnawī (“Dísticos de profundo significado espiritual”), considerado seu maior trabalho composto em seus últimos anos, que contém mais de 25,000 versos autênticos). Ao longo dos séculos, muitos poemas e versos, e até mesmo supostas ”adaptações” dentro de versos, foram adicionadas aos manuscritos mais tradicionais; versos e poemas com menor confirmação de sua autenticidade são reivindicados como pertencentes a Mawlānā em livros e artigos contemporâneos. Suas obras em prosa que se crê terem sido compiladas após sua morte, são: Fīhi Mā Fīhi (“Whatever Is In It, Is In It,” também conhecido como ”Discursos de Rumi”), Majālis-é Sabca (“Seven Sessions,” também conhecido como ”Sermões”), e Maktūbāt (“Cartas”).

Seus poemas foram extensivamente traduzidos em várias das línguas do mundo e transpostos em vários formatos. E vale a pena a leitura.

Embora hoje ele seja bastante popular no ocidente, e um dos poetas mais lidos dos EUA, parte de sua vida e obra sofreu mudanças nas traduções para o idioma inglês, a fim de tornar a leitura mais agradável ao público americano. Como consequência disso, parte importante da influência islâmica em seus textos e sua relevância para a cultura da religião acabaram, na melhor das hipóteses, sendo bastante diluídas pelos ocidentais.

No entanto, a beleza dos poemas de Rumi não está alheia à sua religião, pelo contrário, seu legado nos ajuda a compreender faces importantes da religião islâmica além dos estereótipos e radicalismos, que nos mostram como o amor a Deus pode ajudar as pessoas a serem melhores nos aspectos mais importantes da vida.


“Você não é só uma gota no oceano, você é o próprio oceano dentro de uma gota.”

Rūmī

Fonte principal: Iqara Islam

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