O I Ching, ou Livro das Mutações teve sua origem em formas oraculares muito antigas, de uma época conhecida como “era mítica do Imperador Fu Hsi” (aproximadamente 3.000 anos a.C.), herói lendário considerado o fundador da civilização chinesa.
Historicamente o que hoje conhecemos com o nome de I Ching, o Livro das Mutações, surgiu no período anterior à dinastia Chou (1150-249 a.C), com figuras lineares, compostas de linhas inteiras e linhas interrompidas, superpostas em conjuntos de três e seis linhas, chamados "Kua" (signo).
James Legge, em sua tradução do I Ching (The Sacred Books of lhe East, XVI: The Yi King, Oxford, 1882), cunhou os termos "trigrama" e "hexagrama" para designar os Kua compostos por, respectivamente, três e seis linhas. Esses termos têm sido adotados por vários estudiosos do I Ching.
Reza a lenda que Fu Hsi inventou os oito trigramas básicos do I Ching e suas combinações em 64 hexagramas, que servem de base ao método de adivinhação por meio de varetas de caule de milefólio, a forma tradicional de consulta do oráculo durante milênios.
Segundo a literatura chinesa, após Fu Hsi, o Livro das Mutações teve outros três compiladores que enriqueceram seu conteúdo:
O Rei Wen, que acrescentou um julgamento para cada um dos 64 hexagramas.
Conde Wen, também conhecido como rei Wen (em chinês 周文王 ou Zhōu Wén Wáng, embora jamais tenha reinado), 1099–1050 a.C., foi o fundador da Dinastia Chou.
O Duque de Chou, que incorporou os comentários referentes às linhas mutáveis dos hexagramas.
Dan, Duque Wen de Zhou (século 11 a.C.), comumente conhecido como o Duque de Chou (chinês: 周公; pinyin: Zhōu Gōng) foi o quarto filho do rei Wen de Zhou e da rainha Tai Si.
Confúcio, o famoso sábio, autor dos textos relacionados à imagem e ao comentário de cada hexagrama.
Confúcio (chinês: 孔夫子, pinyin: Kǒng Fūzǐ) tradicionalmente 27 de agosto de 551 a.C. – 479 a.C.), foi um pensador e filósofo chinês do Período das Primaveras e Outonos.
No ano de 213 a.C., Ch’in Shih Huang Ti, um tirano conhecido como O Grande Unificador (foi o construtor da Grande Muralha e o unificador das províncias chinesas), ordenou a queima de todos os livros existentes, exceto os dos arquivos imperiais, as obras de medicina e agricultura e os livros de adivinhação. Devido a essa seleção, o I Ching, que já era considerado um livro sagrado, sobreviveu ao expurgo das bibliotecas e chegou até nós.
A grande maioria dos estudiosos concorda em considerar o Livro das Mutações como uma importante fonte das duas grandes correntes do pensamento chinês: o taoísmo e o confucionismo. Prova disso é o I Ching fazer parte dos Seis Livros Canônicos de Confúcio.
Confúcio, que comentou longamente o I Ching, considerava que a idéia central do livro era o conceito de mutação, exemplificado por uma frase que o sábio teria dito ao observar a correnteza de um rio: “Tudo segue, fluindo, como esse rio, sem cessar, dia e noite”. Dessa maneira, a observação constante e profunda da natureza sugere a idéia da mutação contínua: depois da escuridão vem a luz; o inverno é seguido pela primavera; após a tempestade vem a calmaria; o dia renasce depois da noite; a lua cresce e decresce ciclicamente; as marés alternam-se no mar. A lei universal que tudo rege é o constante mudar. A realidade se transforma permanentemente, e o I Ching, ao contrário de muitos outros métodos de adivinhação, ensina a guardar essa verdade profunda sem condicionar o nosso comportamento.
O I Ching não prevê os acontecimentos futuros, mas indica a situação presente e seus possíveis desdobramentos.
Como se penetrasse no inconsciente, os ensinamentos do livro sugerem como enfrentar a realidade que se apresenta, explicam as fases de desenvolvimento da ação que deve ser empreendida e indicam o resultado dessa ação sempre que se tenha agido de acordo com as sugestões recebidas. Pois, na verdade, cabe à nossa sensibilidade e inteligência perceber a mensagem quer o I Ching transmite.
Para a sabedoria chinesa, conhecer as forças que agem num determinado momento de nossa vida pode ser muito importante, porque, conhecendo-as, poderemos, em vez de nos opormos a elas, avançar junto com elas, colaborando assim com o movimento natural da vida. Mas para que o I Ching dê uma resposta adequada, a formulação da pergunta é muito importante, pois apenas sabendo muito bem o que procuramos saber teremos condição de interpretar a resposta obtida. Em outras palavras, só se conhecermos bem os motivos e circunstâncias que envolvem a nossa pergunta poderemos decodificar a linguagem simbólica do oráculo. Sempre devemos lembrar que o I Ching não fala a nossa habitual linguagem racional, mas se exprime através das imagens simbólicas do inconsciente.
Fonte: I Ching: O Livro das Mutações. Editora Nova Cultural, adaptado.
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